domingo, 2 de setembro de 2007

República Livre de Fiume



Gabriele D'Anunzio, poeta decadente, artista, músico, esteta, mulherengo, doidivanas aeronauta pioneiro, bruxo negro, gênio e mal-educado, emergiu da Primeira Guera Mundial como herói e com um pequeno exército à sua disposição e comando: os arditi. Ávido por aventura, ele decidiu capturar a cidade de Fiume, na Iugoslávia, e entregá-la para a Itália. Depois de uma cerimônia necromântica com a sua amante num cemitério de Veneza, ele patiu para a conquista de Fiume, e foi bem-sucedido sem nenhum problema digno de ser mencionado. Porém a Itália recusou sua oferta generosa. O primeiro-ministro chamou-o de idiota.


Ofendido, D'Annunzio decidiu declarar independência e ver por qunto tempo conseguiria mantê-la. Ele e um de seus amigos anarquistas escreveram a Constituição, que intituía a musica como principio central do Estado. A marinha ( composta por desertores e sindicalistas anarquistas dos estaleiros de Milão) se autodenominou Uscochi, em homenagem aos antigos piratas que em tempos passados viviam nas ilhas da região e saqueavam os navios venezianos e otomans. Os modernos uscochi foram bem-sucedidos em alguns de seus golpes malucos: vários polpudos navios mercantes italianos de repente deram à República um futuro: dinheiro em seus cofres! Artistas, bôemios, aventureiros, anarquistas (D'Annunzio se corespondia com Malatesta), fugitivos e refugiados sem pátria, homossexuais, dândis militares (o uniforme era preto com a caveira e os ossos cruzados dos piratas - depois roubado pela SS) e excêntricos reformadores de toda espécie (incluindo budistas, teosofistas e seguidores do vedanta) começaram a aparecer em Fiume aos bandos. A festa não acabava nunca. Toda manhã, do seu balcão, D'Annunzio lia poesia e manifestos; toda noite havia um concerto, seguido por fogos de artifício. Nisso se resumia toda a atividade do governo. Dezoito meses mais tarde, quando o vinho e o dinheiro haviam terminado e a frota italiana finalmente apareceu e arremessou alguns projéteis conra o Palácio Municipal, ninguêm tinha energia para resistir.


D'Annunzio, como muitos anarquistas italianos, voltou-se mais tarde para o fascismo - na verdade, o próprio mussolini ( o ex-socialista) seduziu o poeta para este caminho. Quando o poeta percebeu o se ero já era tarde: já estava muito doente e muito velho. Mas o Duce mandou matá-lo de qualquer modo - foi empurrado de um balcão - e o trasformou num "martir". Quanto a Fiume, emboa não tenha a seriedade de uma Ucrânia ou Barcelona liberadas, provavelmente pôde nos ensinar mais sobre certos aspéctos de nossa busca. Ela foi, de certo modo, a última das utopias piratas ( ouy o único exemplo moderno), e tambêm, talvez, algo muito próximo da primeira Zona Autônoma Temporâria moderna.

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